Fotografia: Douglas Petry.
Raphael Augustus fotografado com seu tapete Carnival na ABIMAD 2012 (São Paulo - SP). Abaixo entrevista completa com Raphael Augustus cedida ao jornalista Douglas Petry do Jornal A Hora do Vale (Lajeado - RS) para o Caderno A em Abril de 2012.
Trabalha na área desde quando?
Comecei em 1998 desenhando mobiliário sob medida para algumas empresas do setor e de lá para cá nunca mais parei, e segui ampliando os campos de atuação dentro do design e da arte.
Qual teu maior ídolo do design?
Na 18ª Mostra de Design do IF-SC, me definiram como um produtor de design autoral. Não sei se isso é bem verdade. Mas, também não posso desmentir. Só que admito que me interesso muito pelos criadores mais autorais e em especial os com alto teor emocional. Não posso citar um só e não vejo nenhum deles como ídolo. Mas, devo dizer que a história do Humberto e do Fernando me inspira. E lembro também do meu fascínio quando conheci o trabalho do inglês Dave McKean.
Tem algum estilo que prefira?
Nenhum em especial. Mas, o minimalismo, o pós-modernismo e o desconstrutivismo são os que me vêem em mente agora. Nos últimos anos tenho me interessado muito pela arte contemporânea e nos últimos meses pelas expressões artísticas que embarcam tecnologia e experimentações.
O que te inspira?
Uma deliciosa xícara de café! Conhecer pessoas inteligentes e inquietas, viajar, ler e desenhar. Uma longa conversa com um amigo ou um parceiro de projeto, subir num palco para tocar ou assistir um documentário sobre um tema que nada sei. Muita coisa! Necessito sempre conhecer novas idéias e vivenciar experiências inéditas, penso que todos precisamos. Quando estou querendo relaxar gosto de assistir os vídeos do The Creators Project, sempre me inspira!
Qual a importância de um profissional ser o mais completo possível hoje em dia?
Penso hoje que mais importante do que ser completo é ser humilde. Admitir quando devemos pedir ajuda. Aceitar aprender sempre, assumir o erro, agregar o conhecimento de outros profissionais para realizar sempre o melhor trabalho possível! Talvez a sensação de estar completo gere apenas idéias seguras, repetitivas e sem grandes saltos qualitativos. E perigosas para as empresas e pessoas que pensam que um pode fazer o trabalho de três. O importante é ser humilde e eternamente curioso.
Qual a importância da informação e do aprofundamento em diversas áreas no trabalho do designer?
No design informação é tudo! Sem informação não tem projeto e o aprofundamento é um processo natural para quem busca estar sempre em atuação. Quanto mais eu pesquisar e projetar, melhores serão os projetos em desenvolvimento. Penso que devemos buscar sempre novos horizontes, para quando surgir, por exemplo, um projeto de mobiliário eu não fique preso as concepções de um projetista de mobiliário. Mas, sim ter uma visão mais abrangente, global, para de repente arranjar soluções pouco convencionais e inovadoras. Se eu só pensar como um martelo... Todos os meus problemas serão tratados como pregos!
Quais as áreas que tu atuas?
Atuo no mercado e no universo acadêmico, separei para responder. Mas, na prática não consigo desvincular um do outro. Ministro aulas para os cursos de Desenho Industrial e o de Arquitetura e Urbanismo das Faculdades Barddal, e Artes Visuais no PRONERA da UFSC. No ano passado fui professor do curso técnico em Design de Interiores do CETEPRO-IBE. E como designer faço projetos de produto, de design gráfico e de design de interiores. Já aconteceu de me chamarem para desenvolver produtos e acabei prestando também assessorias, projetando interiores e desenvolvendo a nova identidade visual de uma empresa. Ambos os universos se completam e me completam.
Como faz para lidar com as diferenças de cada uma delas?
Não faço! Não percebo diferenças durante o processo. Apenas vivencio.
Teu trabalho se baseia muito na sustentabilidade. O que te fez buscar inspiração nisso?
Sustentabilidade na minha opinião não tem só haver com as questões ambientais. Projetos devem ser economicamente viáveis para a indústria, adequados as suas necessidades e condições, e isso é ser sustentável. É também se preocupar com o funcionário no chão de fábrica, e com toda a cadeia de envolvidos no processo, entendendo os impactos que cada objeto gera. A preocupação com o meio ambiente é o mínimo que podemos ter. Mas, nem sempre é possível atuar de maneira sustentável. Temos de fazer o melhor em cada situação, sempre com este foco, para podermos assim gerar mudanças reais. As pessoas neste caso são a minha inspiração.
Pra ti, qual a importância de aliar o trabalho de design com as questões ambientais?
Hoje, sinto que é uma questão de sobrevivência para as espécies em nosso planeta e uma ótima maneira de exercitar a criatividade, e romper paradigmas!
Como funciona esse trabalho? Como tu trabalhas para aproveitar os materiais ao máximo?
No stand que desenhei para a última edição da ABIMAD, reutilizei materiais de antigos stands da empresa e um deles foi a lycra, escolhida pelo fato de ela poder ser reutilizada nos produtos que a empresa produz. Não foram para o lixo. Outro exemplo, desenhei um tapete que utilizou 30% menos material em relação a outro com a mesma metragem quadrada. No projeto de design de interiores analiso muito as necessidades imediatas de cada cliente, projetando quando possível peças modulares, versáteis e evitando a obsolescência estética. Se puder reaproveitar algo que o cliente já tenha, faço, e compro somente o necessário. E se o cliente ficar com dúvidas sobre se vai ou não utilizar um determinado espaço ou um novo objeto, sugiro deixar para depois.
Citei alguns exemplos quase simplórios. É um tema que requer muito tempo para a reflexão, com discursos por vezes contraditórios também. Pois o assunto é muito, muito mais complexo e profundo.
O Dave McKean é mesmo uma forte influência sua, hein? Muito bacana. Parabéns pela entrevista! Seu blog já está linkado lá no Cidade Phantástica.
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