Entrevista Escola
Técnica Geração: Setembro de 2013.
Entrevista concedida
a estudante Michelle Hoffmann do Curso Técnico em Design de Interiores da
Escola Técnica Geração (Florianópolis - SC) em Setembro de 2013.
MickelleHoffmann: O que te levou a
escolher o design?
Raphael Augustus: Às vezes fico
pensando que mesmo apaixonado por design não fui eu quem escolheu o design, e
sim o design quem me escolheu! Os meus interesses acadêmicos em princípio
estavam mais voltados para as artes visuais, atividade que ocupa mais tempo
hoje do nunca antes em minha vida. Meu pai dizia que eu deveria cursar
arquitetura, devido aos seus contatos com profissionais e empresários destes
dois setores. Design e arquitetura. O que fez com que eu entrasse logo cedo no
mercado e buscasse a acadêmia apenas alguns poucos anos depois. Comecei como
projetista de mobiliário, depois como designer de interiores e da graduação
para cá desenvolvi todo o tipo de projetos de design. Desde criação de marcas,
diagramação de jornais, troféus, stands para feiras, lojas, tapeçaria e até uma
cadeira odontológica. Hoje sei que o me atrai no design são as suas
possibilidades multifacetadas e estratégicas.
Mickelle Hoffmann:
A
quanto tempo o seu estúdio existe? Como ele surgiu?
Raphael Augustus:
O
estúdio surgiu em conjunto com um estúdio de gravação que montei com alguns dos
integrantes de minha banda, a Fugitivos da Yakuza. Mas, apenas eu atuava na
área do design. Os outros se ocupavam de outras atividades relacionadas a
banda. Hoje alguns destes integrantes estão atuando como designers ou em áreas
próximas. Podemos dizer que oficialmente surgiu em 2009, logo após a minha
formatura. Mas, somente em 2012 começamos a planejar o que queríamos para o
futuro, e quais mudanças desejávamos operar no mundo enquanto designers!
Mickelle Hoffmann:
Como
é feita a seleção da sua equipe?
Raphael Augustus:
Adoro
trabalhar com pessoas curiosas e comprometidas! Nas situações em que é possível
gosto de trabalhar pelo menos com uma pessoa que nada entende da área
específica do projeto em questão. Seu olhar sobre os artefatos ou serviços que
serão projetados costuma fugir das soluções comuns aos projetistas mais
experientes. Vejo o trabalho como algo que deve ser prazeroso, então preciso
saber que a pessoa gosta do que faz e com quem ela faz! Os conhecimentos do
setor específico ao qual o projeto se destinada podem ser ensinados em
treinamentos com equipe. Mas, sempre que possível mesclamos as duas situações,
ou seja, conhecimento de causa e paixão pela causa. Hoje somos uma dupla. Mas,
estamos com alguns projetos para o próximo ano que envolveram outros
profissionais. Alguns já fizeram parte da nossa equipe outros farão!
Mickelle Hoffmann:
De
modo geral, qual perfil de profissional o mercado precisa?
Raphael Augustus:
Curioso!
Curioso! Curioso acima de tudo! E depois saber se vender e vender o seu
projeto! Não adianta nada ser um ótimo desenhista ou operar um software de modo
excepcional, isso são apenas ferramentas. Ferramentas que todo o designer deve
exercitar. Mas, deve ir além, entender de marketing, de psicologia, de
antropologia, de história da arte e de tecnologia. Lembro dos comentários de
Charles Baudelaire em seu livro: Sobre a Modernidade, quando ele fala sobre o
artista Constantine Guys e sua fome de tudo!
Mickelle Hoffmann:
Quais
as dificuldades no mercado de design e arquitetura?
Raphael Augustus:
Penso
que há uma bifurcação com a aceitação do termo design por grande parte do
público. Mas, isso gera um problema. As pessoas falam de design, só não sabem o
que é design! Como ele pode melhorar a vida das pessoas e ainda assim gerar
lucro para as empresas envolvidas. Falta uma mentalidade estratégica de design
na cabeça dos diretores e gerentes de empresas que contratam nossos serviços.
Perderemos ainda muito tempo explicando para o que viemos e depois sim
poderemos projetar com mais propriedade e segurança. O lado positivo é que
somos um país que está despertando para o design, isso quer dizer que temos
muito o que fazer. Muito design para ser feito! Minha atuação na arquitetura é muito
pequena, apesar de ser também professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Faculdades Barddal. Penso que eles enfrentam outras dificuldades. Mas, não sou
o profissional mais indicado para falar sobre eles.
Entrevista FMU: Setembro de 2012.
Fotografia:
Douglas Petry.
Entrevista concedida a
acadêmica Thammy Gil do Curso de Tecnologia em Design de Interiores (FMU:
Faculdades Metropolitanas Unidas – São Paulo - SP) em Setembro de 2012.
Thammy Gil: Gostaria de saber a
área total do estande?
Raphael Augustus: A área total
do Stand é de 104m², sendo um pouco mais de 6m² de área residual, que serviu
como copa para o pessoal do departamento comercial e para nós da equipe de
design. Além de servir como depósito de material promocional para a
feira. Sobrando 95m² para a área de exposição e atendimentos, e a instalação.
Thammy Gil: A área
de que foi feito a instalação?
Raphael Augustus: A área da
instalação ocupou 9m² ou 9m³. A proposta desta instalação era apresentar de uma
maneira inusitada o uso de pelo menos um dos materiais utilizados na produção
de tapetes. Neste caso, a lycra, que foi aplicada de modo aparentemente
caótico. Já que não desenvolvi nenhum desenho técnico para a instalação em si,
propondo o ato projetual e de montagem simultaneamente, e para isso contei com
a ótima colaboração do gerente de produção Bruno da Silva.
Thammy Gil: Qual foi a
intenção?
Raphael Augustus: Os três
principais objetivos deste projeto eram a sustentabilidade, o processo de
estranhamento e apresentar o novo tapete Carnival, desenvolvido pelo nosso
Estúdio. A proposta de sustentabilidade estava inserida desde o desenvolvimento
das peças do stand que foram feitas para serem modulares, duráveis e com
possíveis variações de montagem. Permitindo futuras adaptações para novas propostas
de projeto. Com exceção das estantes que foram fabricadas do zero, ou seja são
novas, o restante do material foi todo reaproveitado de resíduos de antigos
stands que a empresa tinha em seu depósito. Sendo sustentável também
financeiramente, tanto em materiais e processos, como na logística. O tapete
Carnival, startou essa proposta, visto ser um tapete que utiliza 30% menos
material por metragem quadrada, em comparação com outro tapete do mesmo tamanho
e material. O tapete também foi projetado por mim. Mas, o primeiro projeto foi
desenvolvido por mim. E aperfeiçoada em parceria com as costureiras da empresa
e montado por nós. Exigência que fiz aos proprietários, que aceitaram
imediatamente. Propondo assim uma experiência que partiria do chão de fábrica
para a feira. Um processo de estranhamento, na troca de funções dos
trabalhadores, da aplicação e visualização dos materiais. Aonde a lycra que era
vista em tapetes costurados ordeiramente. Agora se exibia ousado e estranho
para os visitantes que circulavam pelos corredores em volta. Essa experiência
também se estendeu para os funcionários da limpeza, montagem e segurança que se
interessavam pelo processo de montagem da instalação. Vivenciando em dois dias
uma experiência com o design. Não acredito em projetos para capas de revista. O
design ao meu ver é feito por pessoas e para as pessoas envolvidas em
toda a cadeia do ciclo de vida de um artefato, seja ele uma obra gigantesca de
arquitetura ou um simples copo de vidro. Queria que as pessoas experimentassem
um deslocamento, um aparente erro, o novo ao visualizar a instalação em si.
Thammy Gil: Que iluminação
foi utilizada?
Raphael Augustus: Quase toda a
iluminação utilizada havia sido adquirida para outros stands, como eu já havia
dito em relação aos outros materiais também. Não lembro mais das
especificações técnicas das lâmpadas utilizadas. Visto que algumas foram
adquiridas no local.
Thammy Gil: Que material?
Raphael Augustus: O critério de
escolhas dos materiais foi voltado totalmente em viabilizar as questões
sustentáveis dentro deste projeto e nos projetos futuros. Utilizei ao máximo os
materiais reaproveitados de outros stands anteriores, dos quais desconheço os
projetos até hoje. O que não utilizou materiais com maior vida útil pode ser
reutilizado. Como é exemplo a lycra da instalação que voltou a ser tapete e
material de estudo para outros projetos. Na instalação reutilizei uma estrutura
metálica para sustentar os fios de lycra. E outra estrutura metálica readaptada
para comportar tapetes em exposição. Nas estantes e no pórtico do stand o
material utilizado foi o MDF branco, por sua resistência e facilidade de
fabricação e mão de obra, e os objetos de decoração, mobiliário e tapeçaria
foram vendidos ou retornaram aos seus respectivos fabricantes.
Thammy Gil: Você também
participou da distribuição do produto no espaço?
Raphael Augustus: Sim. O
desenvolvimento deste projeto incluiu toda a distribuição dos produtos
exposto. Adotamos este critério pelo fato de nosso Estúdio ter lançado
três tapetes nesta edição de 2012 da feira.
Entrevista UNIVALI: Maio de 2012.
Entrevista concedida ao acadêmico Luciano de
Souza do Curso de Tecnologia em Design Gráfico (UNIVALI - Florianópolis - SC)
em Maio de 2012.
Luciano de Souza: Qual o seu
tempo de atuação na área de Design Gráfico?
Raphael Augustus: Comecei a trabalhar
com ilustrações e charges para pequenos jornais em 1996. Mas, considero que
somente em 2006, depois de algumas experiências e trabalhos profissionais que
eu tomei consciência de minha atuação na área e o que realmente representava o
design gráfico para mim.
Luciano de Souza: Em linhas
gerais qual é o seu Método de Projeto?
Raphael Augustus: Não tenho o costume
de seguir uma metodologia fixa. Os passos podem ser trocados de acordo com cada
situação. Mas, vou tentar explanar de um modo mais didático. Cada projeto é
literalmente um caso a parte. O primeiro passo é ganhar a confiança do cliente,
seja ele uma grande empresa ou não, conhecendo , absorvendo a maior quantidade
de informações objetivas e subjetivas relacionadas ao cliente, ao projeto e aos
anseios que o cliente projeta no trabalho que será desenvolvido. Depois uma
pesquisa dos concorrentes dele, o prazo determina a extensão e abrangência.
Então, reavalio os projetos similares realizados anteriormente, tentando captar
o que de melhor foi apreendido e produzido neles. A pesquisa acontece em
paralelo ao desenvolvimento de conceitos, visto que utilizo sempre cadernos de
criação, aonde toda e qualquer idéia é registrada, defino após a geração de
vários conceitos - a quantidade varia de acordo com a abrangência do projeto em
si, para só então realizar a finalização dos conceitos gerado no projeto. Caso,
neste meio tempo, se ocorrer de pouquíssimas alternativas me agradarem, se
viável solicito um prazo maior e retomo as pesquisas e geração de idéias. Para
a apresentação que irá definir qual conceito será aprovado ou alterado se
necessário.
Luciano de Souza: Para a
construção desse Método você se baseou em algum autor ou método já publicado?
Como o seu método foi construído?
Raphael Augustus: Não sei afirmar se a
forma como atuo é um método como conheci na academia. Basicamente foi
construída no chão de fábrica, nas experiências vivenciadas em cada projeto,
considerando cada participante do processo e nas minhas leituras relacionadas
ao design e a sua gestão, ao marketing e a algumas ferramentas clássicas do
desenvolvimento de projetos de produto, que não utilizo sempre e nunca na ordem
em que são apresentadas. Mas, com certeza muitas das idéias dos autores que
abordam o tema fazem parte de meu dia-a-dia como designer.
Luciano de Souza: Como avalia a
importância de uso de Métodos de Projeto no decorrer do Processo de Design?
Raphael Augustus: Quando se há dúvidas
ou inseguranças em relação aos passos a serem tomados, o método é aparentemente
o caminho mais seguro. Penso que quanto maior a experiência, a atuação, a
ousadia e o domínio do profissional da área, menos o método precisa estar
presente em todas as situações. Visto que lidamos também com muitas construções
subjetivas.
Luciano de Souza: Quais Técnicas
de Criatividade costuma utilizar? Em que momentos do projeto utilizar?
Raphael Augustus: Sempre me interesso
por descobrir novas maneiras de exercitar a criatividade. Leio ou discuto
sempre que tenho acesso ao modo como profissionais da área de comunicação
aplicam suas técnicas. O uso de cadernos de criação é uma ferramenta comum.
Gerando soluções que nem sempre são voltadas diretamente ao projeto em questão.
Utilizo o cruzamento de alternativas e quando me é permitido adoro desenvolver
alguns projetos com pessoas que pouco ou nada conhecem sobre a atuação de um
projetista. Assim, elas me oferecem prismas que meus vícios da rotina não me
permitem observar. Mas, geralmente todo o meu processo criativo é liberado por
um rabisco, uma dobradura e um estudo de volume. Utilizo várias ferramentas
comuns ao universo do design, sempre que possível gosto de desafiar os limites
destes processos.
Luciano de Souza: Quais
Ferramentas de Projeto costuma utilizar? Em que momentos do projeto utilizar?
Raphael Augustus: Como citei
anteriormente, utilizo várias ferramentas. Creio que comuns a todos os
designers e como não engesso os projetos em etapas, como Planejamento,
Informacional, Conceitual e Detalhado. As ferramentas são aplicadas de acordo
com o andamento e as necessidades de cada projeto. A pesquisa de concorrentes e
similares, a análise do ciclo de vida do produto, a análise ergonômica e tantas
outras que permeiam todo um projeto são aplicadas em situações de necessidade,
e não de modo mecânico para cumprir um cronograma de projeto.
Luciano de Souza: Quais
Ferramentas de Gestão costuma utilizar? Em que momentos do projeto utilizar?
Raphael Augustus: Tento todo o dia
alimentar uma experiência no mínimo agradável para todos os envolvidos no
projeto, dos operadores de máquinas aos encarregados de chão de fábrica, do
diretor ao consumidor. Penso que para haver uma boa gestão de projeto, ela deve
ser aplicada desde a primeira pergunta ou necessidade que faz um projeto
emergir. E o foco desta gestão não deve ser o de aplicar ferramentas ou exigir
tarefas burocráticas e sim gerar um envolvimento emocional e de todos os
envolvidos, alcançando ou ultrapassando os resultados esperados. As ferramentas
de marketing, de administração, de projeto e de gestão de design são
fundamentais para melhores resultados. Mas, penso que antes disso o design é
feito por pessoas e para pessoas. Não quero dizer que tudo deve ser feito de
modo intuitivo. Mas, um pouco de ousadia e de amarras soltas não pode ser tão
ruim assim...
Luciano de Souza: Como avalia a
importância da aplicação de Técnicas de Criatividade e Ferramentas de Projeto /
Gestão em paralelo ao Método de Projeto?
Raphael Augustus: Acredito que todos
estes métodos e ferramentas são importantes. Ignorá-los é um grande erro.
Munari já pregou em algum momento que devemos visualizar as regras e métodos
como impulsos para estimular a percepção e a criatividade, e não como
bloqueios. Só que acreditar que fazer design é apenas como seguir uma receita
gastronômica me parece um erro maior ainda. O mundo necessita de pessoas
ousadas, as regras estão aí, para serem seguidas ou quebradas e cada designer
deve refletir muito sobre quais delas irá manter.