Entrevista concedida ao acadêmico Luciano de Souza do Curso de Tecnologia em Design Gráfico (UNIVALI - Florianópolis - SC) em Maio de 2012.
Luciano de Souza: Qual o seu tempo de atuação na área de Design Gráfico?
Raphael Augustus: Comecei a trabalhar com ilustrações e charges para pequenos jornais em 1996. Mas, considero que somente em 2006, depois de algumas experiências e trabalhos profissionais que eu tomei consciência de minha atuação na área e o que realmente representava o design gráfico para mim.
Luciano de Souza: Em linhas gerais qual é o seu Método de Projeto?
Raphael Augustus: Não tenho o costume de seguir uma metodologia fixa. Os passos podem ser trocados de acordo com cada situação. Mas, vou tentar explanar de um modo mais didático. Cada projeto é literalmente um caso a parte. O primeiro passo é ganhar a confiança do cliente, seja ele uma grande empresa ou não, conhecendo , absorvendo a maior quantidade de informações objetivas e subjetivas relacionadas ao cliente, ao projeto e aos anseios que o cliente projeta no trabalho que será desenvolvido. Depois uma pesquisa dos concorrentes dele, o prazo determina a extensão e abrangência. Então, reavalio os projetos similares realizados anteriormente, tentando captar o que de melhor foi apreendido e produzido neles. A pesquisa acontece em paralelo ao desenvolvimento de conceitos, visto que utilizo sempre cadernos de criação, aonde toda e qualquer idéia é registrada, defino após a geração de vários conceitos - a quantidade varia de acordo com a abrangência do projeto em si, para só então realizar a finalização dos conceitos gerado no projeto. Caso, neste meio tempo, se ocorrer de pouquíssimas alternativas me agradarem, se viável solicito um prazo maior e retomo as pesquisas e geração de idéias. Para a apresentação que irá definir qual conceito será aprovado ou alterado se necessário.
Luciano de Souza: Para a construção desse Método você se baseou em algum autor ou método já publicado? Como o seu método foi construído?
Raphael Augustus: Não sei afirmar se a forma como atuo é um método como conheci na academia. Basicamente foi construída no chão de fábrica, nas experiências vivenciadas em cada projeto, considerando cada participante do processo e nas minhas leituras relacionadas ao design e a sua gestão, ao marketing e a algumas ferramentas clássicas do desenvolvimento de projetos de produto, que não utilizo sempre e nunca na ordem em que são apresentadas. Mas, com certeza muitas das idéias dos autores que abordam o tema fazem parte de meu dia-a-dia como designer.
Luciano de Souza: Como avalia a importância de uso de Métodos de Projeto no decorrer do Processo de Design?
Raphael Augustus: Quando se há dúvidas ou inseguranças em relação aos passos a serem tomados, o método é aparentemente o caminho mais seguro. Penso que quanto maior a experiência, a atuação, a ousadia e o domínio do profissional da área, menos o método precisa estar presente em todas as situações. Visto que lidamos também com muitas construções subjetivas.
Luciano de Souza: Quais Técnicas de Criatividade costuma utilizar? Em que momentos do projeto utilizar?
Raphael Augustus: Sempre me interesso por descobrir novas maneiras de exercitar a criatividade. Leio ou discuto sempre que tenho acesso ao modo como profissionais da área de comunicação aplicam suas técnicas. O uso de cadernos de criação é uma ferramenta comum. Gerando soluções que nem sempre são voltadas diretamente ao projeto em questão. Utilizo o cruzamento de alternativas e quando me é permitido adoro desenvolver alguns projetos com pessoas que pouco ou nada conhecem sobre a atuação de um projetista. Assim, elas me oferecem prismas que meus vícios da rotina não me permitem observar. Mas, geralmente todo o meu processo criativo é liberado por um rabisco, uma dobradura e um estudo de volume. Utilizo várias ferramentas comuns ao universo do design, sempre que possível gosto de desafiar os limites destes processos.
Luciano de Souza: Quais Ferramentas de Projeto costuma utilizar? Em que momentos do projeto utilizar?
Raphael Augustus: Como citei anteriormente, utilizo várias ferramentas. Creio que comuns a todos os designers e como não engesso os projetos em etapas, como Planejamento, Informacional, Conceitual e Detalhado. As ferramentas são aplicadas de acordo com o andamento e as necessidades de cada projeto. A pesquisa de concorrentes e similares, a análise do ciclo de vida do produto, a análise ergonômica e tantas outras que permeiam todo um projeto são aplicadas em situações de necessidade, e não de modo mecânico para cumprir um cronograma de projeto.
Luciano de Souza: Quais Ferramentas de Gestão costuma utilizar? Em que momentos do projeto utilizar?
Raphael Augustus: Tento todo o dia alimentar uma experiência no mínimo agradável para todos os envolvidos no projeto, dos operadores de máquinas aos encarregados de chão de fábrica, do diretor ao consumidor. Penso que para haver uma boa gestão de projeto, ela deve ser aplicada desde a primeira pergunta ou necessidade que faz um projeto emergir. E o foco desta gestão não deve ser o de aplicar ferramentas ou exigir tarefas burocráticas e sim gerar um envolvimento emocional e de todos os envolvidos, alcançando ou ultrapassando os resultados esperados. As ferramentas de marketing, de administração, de projeto e de gestão de design são fundamentais para melhores resultados. Mas, penso que antes disso o design é feito por pessoas e para pessoas. Não quero dizer que tudo deve ser feito de modo intuitivo. Mas, um pouco de ousadia e de amarras soltas não pode ser tão ruim assim...
Luciano de Souza: Como avalia a importância da aplicação de Técnicas de Criatividade e Ferramentas de Projeto / Gestão em paralelo ao Método de Projeto?
Raphael Augustus: Acredito que todos estes métodos e ferramentas são importantes. Ignorá-los é um grande erro. Munari já pregou em algum momento que devemos visualizar as regras e métodos como impulsos para estimular a percepção e a criatividade, e não como bloqueios. Só que acreditar que fazer design é apenas como seguir uma receita gastronômica me parece um erro maior ainda. O mundo necessita de pessoas ousadas, as regras estão aí, para serem seguidas ou quebradas e cada designer deve refletir muito sobre quais delas irá manter.